quinta-feira, 14 de julho de 2016

Jill Scott ao vivo no EDP Cool Jazz


Um bom concerto é das melhores coisas que me podem dar. Das melhores alegrias, sensações e adrenalina que posso vir a ter. Já sorri muito de orelha a orelha, gritei até ficar sem voz, bati palmas até doerem-me os dedos e, inclusive, chorei em alguns concertos. Se for preciso, e tiver possibilidades de fazê-lo, apanho aviões e voou até eles.

Isto para vos explicar que, talvez por isso, seja cada vez mais critica e exigente em relação a um concerto, especialmente quando este é muito ansiado e se trata de alguém que gosto, admiro e sigo há bastante tempo.

Jill Scott, era um desses casos.

Jilly from Philly é uma diva. Possuidora de uma voz arrebatadora, poderosa e genuína impera no neo-soul. A sua música, envolvente, transmite doçura e força ao mesmo tempo.

Na passada terça-feira, nos Jardins Marquês de Pombal, a sua voz que, confirma-se, é maravilhosa, não defraudou. Mas faltou-me o resto.

Quando digo o resto, é muita coisa. Vamos lá ver, eu adoro Jill Scott e vou continuar a adorar, ainda que e por isso mesmo, tenha ficado um bocadinho ressentida com ela, confesso. O problema aqui (e que na verdade não é nenhum problema) é que já tive a sorte de assistir a alguns bons concertos de artistas do seu nível (ou até mesmo inferior), que deixaram a fasquia muito elevada. Mas voltando ao início, o 'resto' é tudo aquilo que distingue um concerto normal, banal, de um concerto inesquecível.

Como já referi outra vezes, eu não sei o que as pessoas que gostam de heavy metal ou transe procuram quando vão a um concerto, mas sim sei o que os amantes de soul querem: alma, groove, emoção, paixão, calor! Para mim faltou essencialmente isto no concerto de Jill Scott e não foi apenas porque estava uma noite efectivamente fria ou devido ao gap das cadeiras que partiram o público. Eu já assisti a N concertos no EDP Cool Jazz e sabia que isso poderia condicionar, daí ter apostado nos lugares da frente, para poder apreciar da melhor forma possível esta cantora que eu tanto gosto. Logo, não, não foram as cadeiras que me separaram de Jill Scott. Eu estava bem à sua frente e, ainda assim, não conseguimos estabelecer qualquer conexão. O mesmo não me aconteceu com Charlie Wilson, por exemplo, que com as mesmas condições conseguiu transmitir-me calor e muito groove. Achei-o genuíno, senti a sua entrega ao público e, acima de tudo, senti aquilo que mais gosto de sentir vindo de um artista, o seu amor pela música.

Muito sinceramente, alguns podem ficar revoltados com o aqui vou dizer, mas uma vez que tenho um blog, tenho de utilizá-lo para estas coisas, para as alegrias e para as tristezas. O que senti no caso de Jill Scott, foi que veio cumprir protocolo. Um concerto de apenas 1:15h (e após quase o mesmo tempo de espera), sem encore e com um final nada arrebatador. Jill interagiu pouco com o seu público e as primeiras músicas foi ao estilo ‘sempre a aviar’ que eu, particularmente, não gosto. A banda muito discreta e a faltarem alguns instrumentos que se pediam neste tipo de concerto (sopro). O único solo foi, incrivelmente, de guitarra e aqui foi o segundo momento em que me perguntei em que concerto estava. O primeiro aconteceu quando o tema “It’s Love” foi assassinado ao ser latinizado naquela versão de salsa... Vamos lá ver outra vez, uma pessoa que AMA soul e todas as suas variantes e que tem poucas possibilidades de assistir a concertos desse género no seu país, evidentemente, quando tem essa oportunidade, o que espera encontrar não é os temas que venera transformados noutros estilos como o rock ou a música latina, ainda que, se calhar para alguns, os mesmos façam mais sentido no nosso país. No meu caso e acredito no de muitos que ali estavam, eu queria era SOUL Goddamn it! Obviamente que gosto e espero ouvir as músicas ao vivo com arranjos e improvisos diferentes daqueles que oiço em casa, mas não quero, de todo, sentir que as mesmas estão desvirtuadas e perder a conexão que tenho com elas! No concerto de Jill Scott, apenas a "Golden" e a “A Long Walk” me fizeram dançar com vontade e estalar os dedos ao som do seu groove. Era aquilo que eu queria ter sentido reproduzido ao longo de todo o concerto e não aconteceu.
E o que mais me entristece no meio de isto tudo, é ter a certeza de que se eu for a Londres ver um concerto de Jill Scott, tal não acontecerá!

Conclusão, podem ser um pouco duras as minhas palavras e espero que outras pessoas não tenham sentido o mesmo, mas no meu caso, foi isto. Sai mesmo cabisbaixa do recinto do EDP Cool Jazz naquela noite e não é assim que eu gosto de sair deste tipo de concertos.

Ou seja, Jill Scott, terás de voltar novamente ao nosso país (que sabe apreciar música muito bem), para te redimires. O John Legend assim o fez e, pelo que dizem, correu-lhe bem.


1 comentário:

  1. Quanto ao John Legend, confirma-se! Fui vê-lo ao EDP Cool Jazz e ao Marés Vivas. E foram concertos tãooo diferentes! E ainda bem, porque também não apreciei os ritmos e sons do primeiro.

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