quinta-feira, 28 de março de 2013

Jill Scott



Esta senhora tem-me feito companhia nas últimas noites.
Tem-me sabido bem contar com a sua voz quente e com a sua “solidariedade feminina”... É que esta “big mama” põe toda a sua alma e coração nas canções que nos canta. A sua música, tal como ela, é poderosa, intensa, sensual e extremamente feminina. As suas canções são muito pessoais, muito “suas”… revelam-nos dúvidas, receios e pensamentos de uma mulher madura, sensível e com personalidade, como ela o é. Nós (e agora remeto-me para o público feminino) identificamo-nos com a sua música, pelo facto da mesma abranger temas tão reais e tão usuais para nós mulheres, totalmente aprazíveis à nossa sensibilidade feminina. 

Para que comprovem o que vos digo, das músicas de Jill Scott que me têm acompanhado nas últimas noites, especialmente no meu carro, no meu regresso a casa, deixo-vos aquela cujo play tem tocado mais vezes – “Le Boom Vent Suite”. Dos 9 minutos que compõem esta música, são tão vulneráveis as sonoridades e os estados de espírito que a atravessam, que gosto de parti-la em 3 partes. Assim sendo, a minha sugestão é: entrem no ritmo forte da música com os primeiros 3:30 minutos; façam uma pausa após isso, relaxem, reflictam no seu intervalo; e quando chegarem ao minuto 5:50 fechem os olhos, abandonem qualquer pensamento e deixem-se simplesmente levar. 



Este tema faz parte do seu último trabalho lançado em 2011 - “The Light Of The Sun” - um álbum extremamente rico e bem conseguido, que só vem confirmar a maturidade artística desta cantora (que também participou na sua produção e composição), bem como, a sua naturalidade, sensibilidade e espontaneidade enquanto mulher. São muitos os temas que me apetece destacar deste disco, mas comecemos com este agradável e fresco dueto com um cantor que eu também prezo muito –  "So In Love" feat Anthony Hamilton.




E se este som já nos traz um cheirinho do soul dos anos 90, agora oiçam (e vejam) o tema “Shame”, um old-school funk, com um toque de gospel à mistura e no fim, para rematar, o hip hop, cortesia da cantora Eve. This big mama knows how to work it… she’s a magnificent!




Saímos do modo "festa" e entramos na sala da sedução… acreditem, esta senhora sabe ser sexy! Ora vejam-na ao lado do rapper Paul Wall, que nem sequer era necessário nesta música.




Continuamos a caminhar para ambientes cada vez mais recatados e chegamos à música mais instrospectiva do álbum – “Hear My Call” – uma prece com a qual Jill nos presenteia, de coração aberto (e ferido). Uma música cujos arranjos de cordas ajudam a torná-la extremamente bela e elegante. 

   

Too much on my mind… é assim que ela começa a falar connosco nesta música… e quantas vezes não nos sentimos assim, quantas vezes não queremos apenas fechar os olhos, dormir profundamente e voltar a acordar noutro dia, quando já tudo tiver passado, quando já tudo estiver bem, limpo e arrumado e a vida nos voltar a sorrir outra vez (?)




Por fim, a arte da spoken word também presente neste álbum com o poema "Womanifesto" (arte esta com a qual Jill Scott iniciou a sua carreira) e a bluesy&jazzy “Rolling Hills”, em crescente emoção até ao final da música, fechando o álbum da melhor forma, deixando um rasto de brilho no seu caminho.



A minha tarefa desta noite estaria facilitada se esta cantora de Philadelphia, que já inspirou um sem-fim artistas da sua geração e seguintes, não tivesse mais 3 fantásticos álbuns editados. Álbuns estes, que representam volumes da colectânea “Words and Sounds”. O primeiro volume, “Who Is Jill Scott?”, foi lançado no ano 2000, após Jill ter sido descoberta por Questlove (The Roots), com o qual trabalhou e co-escreveu o tema “You Got Me”, posteriormente interpretado por Erykah Badu e pelos The Roots e vencedor de um Grammy. 

Deste primeiro álbum que reúne 18 faixas, consegui, a muito custo, destacar 4. Digo isto porque, ainda no rescaldo dos anos 90 e do seu R&B altamente contagioso, todas elas são terrivelmente suaves e envolventes! R&B puro… SMOOTH - é a palavra! 

Desta feita, damos uma longa (e agradável) volta com Jill e o seu tema “A Long Walk” e depois ouvimos o que ela tem para nos dizer a respeito do seu marido com “He Loves Me”.





Continuamos com o tema "amor", desta vez à chuva com “Love Rain” e em “Brotha” detectamos uma certa preocupação social a vir ao de cima. Ambos carregados de groove, bounce e todos os outros sinónimos destas duas palavras que possam imaginar.






Os dois volumes que se seguiram - “Beautifully Human” (2004) e “The Real Thing” (2011) - não me conquistaram tanto como o primeiro. Contudo, de realçar os temas “Golden”, “Cross My Mind”, "Hate On Me" e “Whenever You're Around”.

Para encerrar este post (e porque já é tarde), voltamos ao seu último trabalho e à música que o abre, pois é precisamente dessa forma que eu me sinto em relação ao que se passa na minha vida, às pessoas que fazem parte dela e a tudo a que já conquistei até hoje, graças a mim e graças a elas. Por tudo isto, I’m Blessed.



E como nunca é demais dizer, lutem pelos vossos sonhos!
God bless you!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Review: Concerto Cody ChesnuTT



Boa noite Soul lovers.

Estes últimos dias têm sido… atribulados. Bons, mas atribulados. Não tenho tido o tempo suficiente que gostaria para dedicar-me ao meu amado blogue. Contudo, no passado sábado tive uma experiência tão encantadora e inesquecível, que acho injusto não partilhar convosco o que foi para mim, Lucélia Fernandes, o bonito e sincero concerto do nosso querido Soul brother, Cody Chesnutt.

Pois bem, a verdade é que se querem saber o alinhamento do concerto, esqueçam! Aqui não se vai falar sobre isso. Fotografias? Também não tirei. Até levei a máquina fotográfica e cheguei por vários momentos a agarrá-la dentro da minha mala, com o intuito de retirá-la e registar algum daqueles momentos tão bons que estava a viver. No entanto, simplesmente não o consegui fazer… Estava literalmente vidrada em tudo o que se estava a passar no palco e à minha volta. Fiquei hipnotizada, entorpecida, extasiada com as emoções que surgiam em catadupa e limitei-me apenas a viver o momento, a saboreá-lo no seu mais ínfimo pormenor e a guardar as recordações no melhor sítio no qual elas poderiam ficar, o meu coração.


Ok, pelo menos, lembro-me que foi esta a primeira música do concerto! :)

Em Dezembro do ano passado, como vocês bem se lembram, já tinha assistido a um maravilhoso concerto de Cody Chesnutt no festival Vodafone Mexefest, o que me deixava um pouco receosa relativamente a este concerto no Ritz Clube. Embora estivesse com vontade de assistir a mais uma performance de Cody, temia que não houvesse grande diferença face ao seu anterior concerto e que o espectáculo se tornasse um bocado “mais do mesmo”. Ainda assim, fui para o concerto de espírito aberto, sabendo que, independentemente de haver efeito surpresa ou não, seria uma fantástica noite de Soul!

À medida que o concerto ganhou vida, apercebi-me, de todo, que não havia razões para temer! É que Cody é puro. Puro no seu amor pela música, na forma em que pisa o palco, puro na forma em que lida com o mundo.


A primeira diferença face ao seu anterior concerto foi: a banda! Ao contrário do Mexefest, neste concerto Cody esteve acompanhado dos seus músicos originais. E acreditem, tanto percebemos quando um cantor se sente sozinho em palco, como quando está em perfeita sintonia com os seus músicos. Se bem que, no caso de Cody, tal não é um factor chave, pois ele sabe valer-se por si só. Consegue chegar até nós e ser caloroso, seja pelas suas palavras, seja pelos seus gestos, seja pela sua voz.

Todavia, com ou sem a sua banda, nessa noite era impossível Cody sentir-se sozinho… E aqui chegamos à segunda diferença entre os dois concertos: o público! É certo que o seu público desta vez era muito mais “direccionado". Contudo, tal como o próprio o disse, naquela noite fomos muito mais que um público, naquela noite fomos membros! E agora pergunto eu: como não sê-lo??!! Como não ser contagiados por aquela energia? Como não ficar rendidos ao feitiço de Cody? As pessoas que se dirigiram no passado sábado à noite ao Ritz Clube queriam uma coisa: Soul! E tiveram-no. Na sua mais pura essência, recordando-nos, por vezes, a magia de um Marvin Gaye de outros tempos…
 

Quem lá esteve, percebe perfeitamente aquilo que estou a falar… e é tão boa esta cumplicidade que se gera entre pessoas que presenciaram estes mesmos raros momentos.

Para quem não esteve, vou tentar explicar-vos da melhor forma, de modo a garantir que vos convenço a (por favor!) assistirem a um próximo concerto de Cody Chesnutt em Portugal!

Assim sendo, não querendo tornar-me repetitiva face ao meu anterior post sobre o Mexefest, mas já o sendo, aqui estão as razões pelas quais devem assistir a um concerto de Cody Chesnutt:

Porque a sua voz é maravilhosa, e quando a ouvimos revivemos um pouco dos clássicos do passado, recordando-nos os "Curtis e Marvins" que tanto amamos.
Porque as suas melodias constituem um Soul doce, que nos transmite alegria e coisas boas, e vontade de dançar, estalar os dedos e bater o pé.
As suas letras, por sua vez, são reais, conscienciosas, sinceras… transmitem humanidade, com tudo de bom e preocupante que esteja inerente. Acima de tudo, reflectem a vida de Cody e contam como a música o salvou em determinados momentos desta. O próprio Cody contou-nos essas histórias no concerto... E aqui reside a razão mais importante que, para mim, me levaria a assistir a um dos seus concertos: a sua capacidade de chegar até nós, de nos tocar, comover, sensibilizar e apaixonar.
Na passada noite de sábado, Cody teve o meu coração.


Temas como este, foram motivo para pôr Cody à conversa connosco. Uma conversa descontraída, na qual o mesmo contou-nos como a música salvou o seu casamento de 15 anos, num momento em que não conseguia comunicar mais com a sua mulher.
Outro momento do concerto foi quando manifestou a sua preocupação relativamente ao crescimento dos seus filhos no mundo actual em que vivemos, perguntando-nos ora alto, ora num sussurro: “Where Is All The Money Going?”.
Ou quando desceu do palco, cantando e dançando no meio de nós… que privilégio dar a mão novamente àquele senhor... poder assistir de tão perto a algo que tanto amo e respeito. Que privilégio, que alegria… por muito que goste de escrever, nunca encontrarei palavras suficientes para o descrever.

Resumindo, Cody entrega-se! É verdadeiro, genuíno, tem Soul, tem groove, tem amor à sua música e faz questão de transmiti-lo, partilhando connosco também a sua vida que, ao fim de contas, acaba por ser também, a sua música.


E pronto, não vos maço mais… apenas referir que o seu encore foi um miminho. Cody regressou a nós com a encantadora “Chips Down (In No Landfill)”, uma música pela qual eu muito ansiava neste concerto! Na mesma pede-nos para ignorarmos todas as distrações que possamos ter naquele momento, para esquecermos o facebook, largarmos o telemóvel e, simplesmente, vivermos o momento. Pede igualmente para que se acendam todas as luzes e, dessa forma, poder ver ver as nossas caras, olhar nos nossos olhos. Que belo momento… instala-se na sala um sentimento de harmonia completa e a mim só me apetece... sorrir.

  
Por fim, ele e os seus músicos ainda nos presenteiam com um enérgico e contagiante tema ao estilo do bom country-blues, para depois fechar ao som de “I’ve Been Life”, que encerra o concerto levando-nos primeiro ao rubro, para de seguida acalmar o nosso coração em jeito de despedida, com a sua última música, “Thank You”.

Mais uma vez, eu é que agradeço, Cody, eu é que agradeço.