segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Mexefest

Este ano foi, sem dúvida, o ano em que assisti aos melhores concertos da minha vida.

Começou com D’Angelo em Fevereiro, seguiu-se Stevie Wonder em Junho, Erykah Badu em Julho e agora, quando julgava que o ano já estava mais do que ganho, para fechar em beleza recebo este bombom que foi assistir aos concertos de Cody Chesnutt e Michael Kiwanuka no festival Vodafone Mexefest.

Michael Kiwanuka 



Michael Kiwanuka foi das surpresas mais agradáveis que tive nos últimos tempos. A sua voz é de facto impressionante e a sua música apresenta qualidade e pernas para crescer, amadurecer e diversificar-se.

Este ano já tinha assistido a um concerto de Kiwanuka no EDP CoolJazz, em Oeiras. Contudo, este concerto apenas me deixou água na boca. Talvez porque nem o âmbito, nem o espaço, nem o público do concerto fossem os mais adequados. Como tal, estava expectante em relação ao concerto de sábado que, sem sombra de dúvida, correu bem melhor.

Notava-se uma maior cumplicidade entre Kiwanuka e a sua banda e, consequentemente, o seu maior à-vontade em palco. As músicas que nós tanto gostamos foram bem interpretadas. Destaco Tell Me A Tale, sem dúvida a sua música-estrela, da qual nos foi presenteada uma magnífica extensão. O swing de Bones é sempre um prazer ouvir e Rest foi simplesmente arrepiante… Kiwanuka tem a vantagem de não precisar de muito para nos desarmar, basta a intensidade da sua voz e uma guitarra.
Ainda de mencionar Waterfall – o cover de Jimi Hendrix (umas das suas grandes referências musicais) que, por não ser tão conhecida, aproveito para vos deixar aqui.


  
Cody ChesnuTT



Bem, mas a verdadeira surpresa deste fim-de-semana, para mim, tem o nome de Cody ChesnuTT.

A bem dizer, nem posso considerar que tenha sido uma surpresa, pois fui para este concerto com as expectativas bem altas. No entanto, uma coisa é saber que o cantor tem uma boa voz, gostar das suas músicas, do seu trabalho… outra coisa é vê-lo e ouvi-lo ao vivo e sentir toda a sua entrega.
Ver a forma como se move ao som da música, as expressões da sua cara, o groove que lhe sai do corpo (e da alma).
Apreciar a beleza da sua voz tal qual ela é, limpa, sem enfeites.
Sentir a paixão que deposita em cada palavra.
Perceber que o que canta tem significado para ele e a importância que tem poder transmiti-lo.

Todo este conjunto só se atinge quando um cantor é vivido, amadurecido... quando traz a sua vida para as suas músicas e quando a música é também a sua vida. Um amor sincero e incondicional.

Eu senti tudo isso em Cody Chesnutt e ainda estou a vibrar de felicidade por esse momento.



Foi com esta música que Cody abriu o concerto, envergando o seu característico capacete.

É também este tema que abre o seu último e mais recente álbum – Landing On a Hundred.

Para quem desconhece o percurso de Cody, o mesmo apenas conta com mais um álbum editado - The Headphone Masterpiece - gravado em 2002 num estúdio improvisado no seu quarto. Desse álbum faz parte o tema The Seed, com o qual os The Roots fizeram uma versão, dando Cody a voz.
Tal conferiu a Cody alguma notoriedade, tornando-o bastante aliciante para as editoras. Todavia, resultado do estilo de vida que levava na altura, em que a infidelidade para com a sua mulher era frequente, Cody optou por se dedicar à sua família (mulher com quem é casado há 15 anos e dois filhos) e "limpar" o seu percurso, dando um novo rumo à sua vida.

Conto-vos isto para que entendam o significado das suas músicas e percebam também o motivo pelo qual ele as canta com tanto sentimento.

Este álbum constitui uma espécie de redenção pessoal para Cody. Um período de introspecção em que se questionou acerca da sua vida e do caminho que queria seguir para a mesma.

Til I Met Thee reflecte exactamente esse período, de uma forma muito espiritual. Segundo o próprio - he was asleep/ A stranger in a foreign land/ A person walking in darkness with no sense of direction… / Til he met thee Lord.

Posto isto, continuemos com o concerto!


Esta era uma das músicas da noite mais esperadas por mim!  

That's Still Mama tem um groove fantástico, e eu estava mortinha por vê-lo interpretá-la! E que prazer foi poder fazê-lo… Mais do que isso, consegui ficar na primeiríssima fila e ver todo o concerto ao pormenor! Que bom... que bom foi ver claramente as expressões da sua cara quando cantava, ver como se contorcia ao som da música… de facto groove é algo que se tem ou não se tem! Para ser bom e verdadeiro, tem de ser natural, instintivo, sair do corpo, nem que seja com o simples bater do pé… e o groove de Cody é-lhe completamente natural, genuíno, contagiante! Tanto que por várias vezes no concerto os seus gestos e a sua forma de cantar fizeram-me lembrar o grande Marvin Gaye.




Everybody's Brother é outro tema autobiográfico em que Cody se refere à sua infidelidade no casamento e ao problema de adicção às drogas do seu tio. Na música é dado ênfase à frase "no turning back", que significa o não voltar a esse estilo de vida destrutivo. O mesmo "no turning back" foi entoado na estação do Rossio pelas vozes felizes que lá se encontravam, repetidamente, ora alto, ora bem baixinho... Como Cody puxou por nós! Fez questão de ouvir a nossa voz, dar-nos a mão, sentir o nosso calor.
O mesmo aconteceu em Parting Ways, quando o senti colado a mim enquanto se equilibrava no gradeamento por forma a puxar ainda mais por nós. Extraordinária a sua entrega.




Outra música que nos pôs a sorrir foi a doce Love is More Than a Wedding Day, em que pudemos vê-lo feliz enquanto dançava sozinho de olhos fechados, como se tivesse ali consigo o seu par. Faltou a esta música os coros que lhe dão um toque de gospel para a tornar ainda mais bonita. Esse foi de facto o único ponto fraco do concerto - a pobre estrutura da banda. Eu confesso que bem tentei olhar para os restantes elementos, mas os meus olhos iam sempre parar nele. É verdade que a sua forte presença em palco foi suficiente para nos proporcionar um concerto sensacional, mas se a isso lhe tivéssemos juntado uma banda de fundo completa (instrumentos de sopro e coros incluídos)... Ui! Aí sim, teria sido algo extra sensacional!

Aém destas, também fizeram parte do reportório Under the Spell of the Handout, What Kind of Cool (Will We Think of Next)  e o consciencioso Where is all the Money Going.


Por fim, quando volta para o seu encore, dá-nos a agradável (e penso que também fresquinha) notícia de que no dia 16 de Março estará de volta a Portugal para um concerto na Aula Magna! Na altura não percebi muito bem o dia, mas ontem pude confirmar com o próprio quando o encontrei pela segunda vez, agora à entrada para o concerto de Kiwanuka! :)
Sim, tive o prazer e a sorte de “esbarrar” com Cody Chesnutt antes do seu concerto na sexta e novamente no sábado! Inacreditável, mas agradeço a quem quer que seja lá em cima por me proporcionar estes encontros inesperados!!

Na primeira vez apenas tive tempo para tirar uma fotografia com ele, mas na segunda deu para conversarmos um bocadinho e, pude dizer-lhe de forma muito resumida, tudo aquilo que tinha sentido no seu concerto. Foi fantástico ver a expressão incrédula na sua cara a forma como, humildemente, me repetia “Obrigado, obrigado!” – ao que eu lhe respondia “Não Cody, obrigada eu!!!” (Lol) Uma amiga minha falou-lhe do meu blogue e eu disse-lhe que o meu próximo post seria sobre ele. Bem, a sua expressão ainda mais incrédula ficou! E novamente - “Obrigado, obrigado!”(Lol). Que prazer foi conhecê-lo!

Não sei, nem consigo explicar o porquê de me sentir como me sinto com tudo isto, de como este estilo de música me faz vibrar…Talvez pela sua essência, pela sua história, pela sua sonoridade, pelas suas vozes… não sei, simplesmente não sei dizer. Apenas sei que me faz sentir uma felicidade tremenda. Como uma descarga de adrenalina que me é injectada no corpo e perdura por dias e dias. Alguns de vocês devem perceber do que falo, outros nem tanto... De qualquer forma, é um prazer enorme para mim poder partilhá-lo com todos, como tal, aqui fica o meu também “Obrigado, obrigado!” ;)



4 comentários:

  1. Obrigada eu :) pela tua partilha e por me teres levado a conhecer este som fabuloso que aqueceu a minha alma! E dia 16 Março estarei lá ;)

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    1. De nada amiga, é isso que se quer - almas bem quentes!! ;)
      Estarás tu e estarei eu!!!! :))

      Bjs**

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  2. Muito bom!!!! Beijo grande e continua!!!!
    Alexandre Pires

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