quarta-feira, 14 de novembro de 2012

The Existential Soul of...




A semana passada foi mais uma semana daquelas… trabalho, tudo e mais alguma coisa para fazer, fim-de-semana fora… enfim, os dias passaram a correr e sobrou-me pouco tempo para me dedicar ao meu estimado blogue. 

Além de faltar-me tempo, faltou-me também “inspiração”! Normalmente escolho com facilidade o tema ou o artista sobre o qual quero escrever e vou fazendo as minhas pesquisas ao longo da semana. Mas na semana passada, estranhamente não consegui decidir-me sobre o tema do post! 
É claro que existem mil e um artistas sobre os quais eu quero escrever… acontece que essa vontade tem que ter hora própria de "acontecer". Tal como referi no inicio deste blogue, gosto que a minha relação com a música seja espontânea. Gosto de escrever de forma natural e consoante aquilo que me vai acontecendo na vida, na semana, no dia a dia, consoante a música que toca no momento.

Pois bem, sexta, de caminho a casa, final de mais uma semana, e dou comigo a pensar no carro: “Que raios! Tenho que escolher um tema para o meu próximo post!”… Eis que, a minha amiga rádio Oxigénio começa a falar acerca de um trabalho extraordinário que foi recentemente editado e que, por acaso, eu já conheço e até foi a minha última aquisição em vinil!

E pronto, foi automático! Pensei: “É claro! Vou escrever um post sobre Tim Maia!”

Tim Maia é um músico brasileiro que poucos conhecem em Portugal, mas que foi considerado o Guru do soul e do funk no Brasil, na década de 70. Uma espécie de Curtis Mayfield com sabor brasileiro, cujo resultado só podia mesmo ser… delicioso.

Estamos no início da década de 70, numa época onde nomes como Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso ou Milton Nascimento imperam no contexto musical brasileiro. Artistas que, mediante a sua criatividade e talento,  ditam a história da música popular brasileira, contribuindo de forma determinante na evolução da mesma, fundindo-a com novas sonoridades como o jazz e o pop. 

Estamos numa época onde a população brasileira divide-se entre os sons tropicais e o rock importado. Na qual ainda existe um certo preconceito racial fazendo com que, embora surjam músicos Afro-Brasileiros proeminentes, estes sejam subestimados uma vez que, o protótipo do músico negro brasileiro restringe-se ao típico cantor de samba.  

Nessa época surge Tim Maia – excêntrico nos seus hábitos, polémico nas suas acções, controverso nas suas músicas. 

Ainda assim, que beleza é ouvir as suas canções….



Sebastião Rodrigues Maia nasceu no Rio de Janeiro, em 1942. Em pequeno aprendeu a tocar guitarra e aos 15 anos formou o sua primeira banda – “The Sputniks”. Adivinhem quem também fazia parte desta banda?? Quem? Quem?? Nada mais, nada menos do que o mítico Roberto Carlos, então seu vizinho.

Aos 17 anos, sem dinheiro e sem saber falar inglês, mudou-se para os EUA, onde viveu com uns primos perto de Nova York. 
Na América Tim continuou a sua carreira musical, iniciando também uma vida de marginalidade em paralelo.
O regresso ao Brasil nunca esteve nos seus planos, contudo, três anos mais tarde, Tim é condenado por consumo de drogas e roubo, sendo deportado para o Brasil. 

De volta ao Brasil, traz consigo na bagagem as sonoridades soul e funk que absorveu nos Estados Unidos, gravando no final da década de 60 alguns singles em inglês pela mão da editora Fermata. Um desses singles (These Are the Songs) é descoberto pela cantora Elis Regina que, rendida ao seu talento, convida-o para gravar um dueto dessa canção numa versão em português e inglês.




Este dueto desperta a atenção do público brasileiro para este afro-man de voz rouca, funcionando como uma catapulta na carreira de Tim Maia, que no mesmo ano (1970) grava o seu primeiro álbum. 

Mas a minha intenção não é falar-vos dos álbuns de Tim Maia mas sim, de uma colectânea magnífica que foi concebida pela editora Luaka Bop. Nesta colectânea estão reunidas as melhores músicas de Tim (tanto em português, como em inglês), reeditadas e remasterizadas. Falo de: “World Psychedelic Classics 4: Nobody Can Live Forever: The Existential Soul of Tim Maia”.

A música que abre este post, “Que Beleza”, é também a música que abre esta colectânea, cujo título original é "Imunização Racional” e faz parte do seu álbum de 1974 - “Tim Maia Racional Vol. 1”.
Grande parte das músicas reunidas neste trabalho fazem parte da Era “racional” de Tim Maia. Passo a explicar quando vos disse que este cantor era excêntrico, não estava a enganar-vos… Acontece que no meio da década de 70, sem se saber bem porquê, Tim converteu-se a uma seita religiosa de nome “Cultura Racional”. Esta seita defendia que nós, seres-humanos, provínhamos de outro planeta e que estávamos na Terra para sofrer, mas que poderíamos ser purificados através da leitura de um livro (do qual Tim na altura se fazia sempre acompanhar), com a finalidade de sermos resgatados por discos voadores provenientes do nosso planeta mãe…. Enfim, coisas à Tim Maia... :)

Durante esse período de “iluminação”, além do seu livro como acessório imprescindível, Tim vestia-se de branco, tirou a barba, deixou o álcool, drogas e carnes vermelhas e gravou temas fantásticos como estes:


O Caminho do Bem



 Bom Senso



Mas não é só de doutrinas religiosas que é composto o soul de Tim Maia. O mesmo também nos revela um soul activista, transmitindo-nos mensagens de amor in a very smooth way, como por exemplo com este  "Let's Have a Ball Tonight”.



“There are so many politicians
Trying hard to find the way
And peace is not so far
And yet, it seems that nobody can see that

Love is all that you're needing
Love is all that you have to do
Love is really the answer
Why waste time with war?”
 
As baladas também estão presentes e de que forma! Escutem com atenção esta maravilhosa "Where Is My Other Half" e sintam todo o amor e mágoa na voz de Tim. Percebam a forma como ele amaciou a sua voz rouca e grave nesta música, deixando-a tão doce e quente que nos derrete por completo…




Em “Ela Partiu” Tim continua a cantar o seu desgosto amoroso… e que bem fazem os desgostos amorosos aos artistas! Como lhes inspiram... fantástico este tema.




Funk! Funk! Funk! Tanto e tão bom funk que este homem tem para nos dar!!  Ora suave, ora mexido, qualquer um deles sabe bem, qualquer um é bem feito… deixo-vos um de cada género!


Nobody Can Live Forever



 Do Leme ao Pontal



Por fim, a música que fecha esta colectânea – “Rational Culture” – o tema épico. Um funk jam de 12 minutos… as guitarras desta música dão-lhe um groove simplesmente sensacional.




Espero que tenham gostado de conhecer esta personagem tanto como eu! Tim foi de facto único e teve uma vida única. Entre outras coisas, apenas introduziu o soul no Brasil, vendeu milhares de discos, teve 5 casamentos, algumas sentenças de prisão, um gosto particular pelo psicadélico, converteu-se a uma seita religiosa e foi considerado pela revista Rolling Stone como o melhor artista de sempre brasileiro.
 
A sua morte, como não podia deixar de ser, foi prematura e um espelho do que foi a sua vida. Tim faleceu aos 55 anos com um ataque cardíaco, aquando do seu concerto no Teatro Municipal de Niterói (1998).
Ainda assim, penso que Tim desfrutou por demais da sua vida… vivendo-a intensamente e de forma bem-disposta, deixando um legado precioso à música brasileira. Simplesmente, um génio!



"I don't burn, I don't snort, and I don't drink. My only problem is that sometimes I lie a little."
Tim Maia


2 comentários:

  1. Excelente post.
    Tim Maia é um dos melhores artistas da música brasileira, em minha opinião. A sua vida pessoal foi, de facto, repleta de aventuras e desventuras. Mas, apesar de todas elas, deve ser lembrado pela qualidade da música.

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